Antibiótico

A infelicidade era escarrada no banheiro de casa e engolida nas ruas, lá fora. Mas, fosse como fosse, estava sempre lá, como que presa. Um nó na garganta. Urro grito desespero preso que se apodera desmorona escombro tudo debaixo por sobre... A infelicidade era engolida nas ruas. Engolia as ruas. Engolfava quem olhasse mais de perto. Tão perto. O ranço morno que não se desprende e não deixa engolir água. Não deixa dissolver o que tanto pesa mas tanto pesa... Não dá para engolir. Dormir. Quero o peso da infelicidade nos meus olhos velhos, quem sabe assim eles durmam. Sono sem sonhos. Mas ela só pesa nos pés: os olhos, acho que em resposta, permanecem abertos. Serão os últimos a morrer. Talvez porque, ao morrer de olhos abertos, se entende a infelicidade que fulmina e suja o banheiro.

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