Pequenas grandes coisas

Era pequena, muito pequena.

Não entendeu seu vestido preto. Não entendeu as lágrimas do pai. Não entendeu a reunião de família sem graça e sem riso. Não entendeu a ausência repentina da mãe. Mas ficou triste, muito triste. Não é preciso entender nada quando se tem o que sentir. E ela tinha.

Voltaram cabisbaixos para casa. Uma casa agora vazia e mais fria. O pirulito amarelo era seu prêmio de consolação. Uma tentativa amorosa e ingênua de fazer com que se sentisse melhor. O pai sentou-se no sofá, as luzes fracas. E ela sentada na poltrona, olhando-o. Profundamente.

Ele se levantou, acendeu as luzes. Seguiu até a vitrola e coloca um disco. Delicadamente. O som, de um chiado suave e delicioso, começava a vazar pela sala e logo ela estava cheia. Ela se lembrava de já ter ouvido aquilo antes, muitas vezes. 


O pai fez um gesto com a mão, para que ela se levantasse. Ela se aproximou e ele pegou sua mãozinha frágil e morna. Ela pisou em seus sapatos, equilibrando-se. Ele pegou sua outra mãozinha. E agora está tudo bem.

Eles dançam, suavemente. Sorrisos tristes ousam apareder. E ela se lembra de já ter ouvido aquela melodia muitas outras vezes.

E, de repente, a vida era grande, muito grande.

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