Solidão que nada!

Ela entrou no metrô e logo o viu sentado com seu cabelo bagunçado. My cup of tea. Foi se aproximando devagar para não cair e fazer feio. E estava tão bonita - e falante. Se ele sorrisse de volta, puxaria papo. Tirou os óculos escuros. Falaria sobre literatura. Ele também gosta de Proust, ela olhou indiscretamente dentro da sacola da Livraria Cultura que ele trazia entre os pés.

Começariam a conversar despretenciosamente sobre o clima - e sobre Proust, naturalmente. Eles perceberiam a química logo de cara e, estando os dois sem compromisso, iriam tomar um café. A conversa fluiria como acontece poucas vezes na vida, com direito aquela sensação engraçada de já conhecer a pessoa  há muito tempo.

Trocariam números de telefone - porque nenhum dos dois gosta de internet - e se falariam algumas vezes por semana. Sairiam mais outras vezes e continuaria a vontade de se verem. Em certo momento, decidiriam que aquilo valia a pena. Iriam morar juntos, tocar a vida juntos. Perceberiam-se diferentes, mas também que funcionavam bem quando estavam juntos. E fariam suas apostas nesse simples fato.

O metrô parou na estação Consolação e ela desceu tristonha do vagão: ele não a tinha visto, pois estivera ocupado demais com seu celular postando no facebook:

"Tão sozinho!"

Ouvindo "Solidão que nada" (Cazuza)

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