Clara e o Jazz

Ouviam jazz à meia luz. Os garçons, as mesas, tudo parecia levemente enevoado. Mas os talheres, os copos e dos dois pareciam brilhar, cintilar.  Clara meneava a cabeça levemente conforme a música. O dedo deslizava pela borda do copo. A banda tocava enquanto ele ensaiava. Tinha medo de não estar pronto.

Rui a encarava fixamente. Clara tinha prendido os cabelos, mas alguns fios teimavam escorregar pelo seu pescoço e colo. Ele a olhava.

- Desde quando você tem permissão para me olhar assim? - ela disse, levantando os olhos de sua bebida.

Ela sorria, sorria aquele sorriso que o fazia tremer.

- E precisa de permissão? - ele sorriu, pegando sua mão.

- Do jeito que você me olha, sim, precisa - brincava com a mão dele.

- Ah não sabia disso, me desculpe. Vi como te olharam quando entramos... Achei que ninguém precisasse disso - brincava com a mão dela.

- Mas você nunca ouviu falar em espaço pessoal? Você pode até não estar muito próximo de alguém, mas o jeito como olha as pessoas diz muito. Talvez mais até do que palavras.

- E o que o meu olhar te diz? - ele arriscou.

Clara tomou um gole de sua bebida. Levantou o olhar e disse lentamente, em voz baixa:

- A mesma coisa que tem me dito há três semanas.

Rui baixou o olhar. Apertou-lhe a mão suavemente.

- Quer dançar? - a boca seca perguntou.

- Achei que nunca fosse perguntar - os lábios mornos (quem sabe viesse a saber) disseram.

Xeque-mate.

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