Da leveza fingida

Fuja. Fuja mesmo. Eu não vou te segurar. Não sou de segurar os outros. Como seguraria você? Justo você? E... Para quê?

Não vou dizer que te entendo. Que te desvendei. Só acabei me desvendando. Olho a venda sobra a cadeira vazia. Então... Era isso? Todo o alarde da sua existência barulhenta para isso?

Porque a sua leveza é uma coisa fingida. A leveza que admirei. Seu sofrimento te corrói por dentro e você ostenta essa máscara do humor. Se esconde atrás do próprio riso. Já conheci dezenas de pessoas como você. O riso nervoso de não saber o que fazer. Rir para não chorar. Pode ser bonito isso, mas te falta a dignidade do choro. De se reconhecer falho e humano e cindido. Porque, afinal, é o que todos somos.

Mas você não brinca dessas coisas. Porque é mais legal parecer sempre bem. Você chora sozinho porque não sabe se dividir. Não sabe, não quer. Tanto faz. Também há certa dignidade em chorar sozinho. Mas você chora?

Eu me achava feia por levar tanto chumbo nas malas da vida. E ao pouco estou aprendendo a ir largado um punhadinhos pelo caminho. Outro tantos eu transformo em areia. Passa tempo pela ampulheta. E eu te vejo passar pela vida com as malas pesadas, tão pesadas quanto as minhas. Só que você tem mala de rodinha. Só que uma hora você vai ter levar no braço esse peso que parece inexistir. Só então acho que você vai cair na real. Aí eu quero ver. Nada. Não quero mais te ver. Ver para quê?

Eu admito que não te entendo, não te absorvo, não te leio. Especulo - você não deixa ningupem chegar perto. Justo para mim, justo para você. Não sei nada disso. E não quero saber - não mais. Mas eu sei rir dos seus ledos enganos ao achar que me entende, me absorve, me lê. É aquela coisa que achar que somos todos cem por cento transparentes. É isso que você deve achar.

Eu achava que nós apenas encarávamos a vida de modo diferente. Mas a sua leveza só sufoca o que te sufoca. Eu deixo fluir, transbordar, sangrar. Você ri. Mas a sua leveza só sufoca o que te sufoca. E todos acabam mortos.

Quero ver quando transbordar. Na verdade, não quero ver mais nada.


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