Maurício+Malu: Lógica feminina

Bastava esfriar um pouquinho e Malu mudava a regulagem do chuveiro para inverno. Quando ela brincava de sauna russa, Maurício faltava-lhe como companhia: faltava-lhe ar. 

Ele não podia com ambientes abafados, então ia fazer alguma outra coisa. Normalmente, sentava-se na banqueta de vinil e conversavam. Rádio ligado. Mas não quando Malu cismava de ser cozida a vapor. Aquilo lhe lembrava uma música do Skank, mas o contexto de ambos estava livre de qualquer sensualidade - ou possibilidade de sobrevivência diante do vapor.

- Ai como você é frescurento! - ela dizia displicente.

E passava, nua e ligeira, pelo corredor. Trancava-se no banheiro, ligava o chuveiro e cantava junto com o rádio. Feliz. Banhos para ela eram sempre rituais de purificação. Para Maurício os banhos também serviam como ritual de purificação, mas banhos frios. E ele gostava de verão. E que friozinho chato era aquele de fim de ano? Servia bem para ficar agarradinho com Malu, porque no verão a frescurenta era ela:

- Ai como você é grudento! - ela dizia fazendo careta.

Fazia charme, isso sim. Era mulher, o que poderia esperar?, pensava Maurício.

Malu saía do banheiro agora, enrolada numa toalha de banho amarela. "Escondida" seria a palavra certa, porque a toalha era absurdamente grande.

- Presente da sua mãe, ué? - alfinetou ele.

Ela torceu o nariz e foi até o quarto. Maurício lia tranquilamente uma revista de variedades na sala, minúscula. Malu logo passou de volta, apressada com potes e mais potes. Era hora de outro ritual, de outro banho: o de hidratantes. 

Maurício não entendia qual era a ideia de Malu: ela tomava banhos escaldantes que faziam mal para a pele (a tevê estava sempre falando sobre a pele, principalmente agora no verão bah) e depois tomava mais banhos e banhos de hidratante. 

Malu saiu do banheiro, alguns potes quase vazios.

- Não entendo a sua lógica: para que banho quente se você vai se encher de creme depois? - sorriu Maurício.

Ela se sentou na poltrona, ficou alguns instantes pensativa e, como uma criança que partilha um segredo, abaixou a voz, se aproximou e respondeu:

- Porque são dois prazeres conciliáveis e particulares.

E foi então que Maurício percebeu que não tinha nada do gênero. Crise instaurada e nova promessa para 2012.

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