Senhas ou Convite

Alguém bateu na porta uma vez. Ela fez que não ouviu. Bateram de novo. Ela ignorou.

Se baterem mais uma vez, eu atendo, ela pensou.

Queria ver o quanto batiam, o quanto persistiam. E bateram mais uma vez. As três vezes do mesmo jeito: três batidas suaves, mas firmes, decididas, sem desespero, sem pressa, muito certas.

Ela se levantou, colocou os chinelos. Chovia lá fora, mas ela não se importou em demorar a atender. Quis ver o quanto persistiam. Quis ver o quanto ela valia a pena para ver se valia a pena para ela. Cansou de ser trancada para fora, de ficar sem as chaves, sem as senhas, quando tinha entregue suas chaves e senhas e sempre deixado que entrassem. Também não queria mais ninguém tentando quebrar as janelas, nem forçando passagens e caminhos. Não queria quem quisesse que ela recolhesse as chaves que já tinha dado ou que quisesse que ela trocasse as chaves, trancas, maçanetas... e portas! Eram as portas dela. Madeira pintada de branco. Pois quem quisesse que ela mudasse as portas, ia logo querer mudar a cor das paredes. Um cômodo de cada tom pastel.

E, sendo assim, abriu a porta:

- Ah! É você!

Ela sorriu. Pegou-lhe o guarda-chuva e disse para que tirasse as galochas. Ele conhecia as senhas, mas não as usou. Tinha as chaves, mas preferiu bater na porta. Sabia de todos os códigos, mas se fez de esquecido. Talvez porque, lá no fundo, sabia que ela abriria a porta. Sabia-se ser sempre bem vindo.

Ouvindo:

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