Maurício+Malu: On/Off

Maurício chegou tarde em casa. Malu o esperava na sala, maldizendo os políticos, a novela, o Galvão. Malu reclamava demais.

Ela: - Como foi seu dia, amor?

Ele: - Já foi - disse áspero.

Ela: - Se não quer comentar, eu entendo.

Ela não entendia nada, na verdade, pois tinha uma grande necessidade de contar como tinha sido o seu dia, vontade de dividir e queria que essa vontade fosse recíproca. Mas tinha aprendido a respeitar a introspecção de Maurício, que às vezes se instalava silenciosa e assustadoramente entre os dois. Respeitar não significa aprovar.

Ela: - Eu fiz a janta - ela sorriu.

"Coisa rara", pensou ele, azedo.

Ela: - É um risoto de frango. Tá levinho, dá pra você comer a essa hora.

Ele: - Não, obrigado. Tô sem fome.

Malu respeitava o mau humor dele. Entretanto, tinha dificuldade de lidar com aquilo, com aquele humor com o qual ela não sabia lidar. Tentanva enchê-lo de carinhos, de mimos. Mas ele permanecia intratável.

Ela: - Ok.

Tirou o time de campo. E os pratos da mesa. E a panela do fogão. Foi lavar a louça. Maurício largou suas coisas sobre o sofá, foi tomar um banho. Estva fulo, fulo porque tinha tido um dia de cão. Mas mais fulo ainda porque sabia que não ia conseguir se desligar de tudo quando chegasse em casa. Não ia conseguir relaxar. Talvez nem mesmo dormir devidamente. Portanto, quanto menos falasse, melhor. E no chuveiro, ensaiava as explicações a serem dadas a seus superiores.

Ela: - Oi? - ela perguntou da cozinha (apartamento minúsculo, paredes finas)

Ele: - Não é nada - gritou dele, tentando se desconcentrar das tais explicações: não queria explicar-se para ela ou imaginar como seria explicar-se para os seus superiores. Eram explicações em voz alta.

Numa última tentativa, Malu pegou dois filmes da estante da sala: quarta-feira era dia de filme. Foi ver Maurício, já no quarto:

Ela: - Como está o seu ânimo para filme? Tenho duas opções aqui: Titanic, que você adora, e O Poderoso chefão...

Ele: - Que você adora - interrompeu ele e continuou - Olha, eu não quero fazer nada! Só quero ir dormir, pode ser?

Malu estranhava aquela dureza de Maurício, primeiro, por não estar acostumada, segundo, por estar se acostumando, já que estava se tornando algo relativamente frequente. A necessidade que ele tinha de estar sozinho parecia estar ficando mais comum e aquilo a abalava. Talvez ela não fosse a pessoa certa... Seria aquilo?

Ela: - Pode ser sim - ela saiu do quarto, guardou os filmes e foi tomar banho.

Tinha escolhido a camisola nova, mas ficou com o pijama de sempre mesmo. Para quê camisola nova?

Quando chegou ao quarto, Maurício fingia dormir - ela sabia que ele não estava dormindo coisa nenhuma. Malu guardou algumas coisas no armário, ajeitou o despertador, deitou e dormiu. Enquanto isso, Maurício ensaiva mais explicações e pensava nas mais diversas maneiras de resolver os problemas no trabalho.

Nem preciso dizer que ele não dormiu naquela noite.

Comentários

Anônimo disse…
Oi Frau, gostei das histórias que li aqui até agora, vc escreve sobre o cotidiano de um jeito leve, uma leitura gostosa. Considere-me seguidora do seu blog. =)

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