Diário: Ritos de Passagem

A vida pede passagem e antes que eu me atrapalhe toda e tropece nos cadarços - que teimam em desamarrar - eu agarro os ritos de passagem pela mão. Claro que às vezes eles não se reconhecem como tais, mas isso não parece importar muito no final das contas. Também me descobri rito de passagem de outras pessoas, o que me surpreendeu e causou uma certa felicidade (nada) secreta.

Minha vida tem sido recheada deles nos últimos meses. Tudo e tanto parece acontecer ao mesmo tempo. Entretanto, dessa vez, não tenho a impressão de que vou acabar engasgada por querer engolir o mundo de uma vez só - imagino um globo inflável preso em minha garganta e ouço a música de abertura de CSI Las Vegas. Acho que finalmente encontrei várias coisas pelas quais procurava - e uma delas foi o equilíbrio.

Eu percebo que há coisas que estão prestes a mudar e aí vêm os ritos de passagem, aquelas situações ou pessoas que nos colocam a prova, para que a gente cresça e mude. Hoje mesmo um dos meus ritos de passagem me ligou no celular. Demorei a reconhecer sua voz e seu jeito de falar, pois havia muito tempo que não conversávamos. E não conversamos. Mas foi engraçado pensar em como as pessoas nos trazem de volta a nós mesmos e como nos redescobrimos quando estamos em contato com o outro. 

Ultimamente, quando penso na minha vida, me vejo de pés descalços, pés sujos de terra. Sempre caminhando, sempre seguindo em frente. E muito bem acompanhada por sinal. Um velho sábio me disse mais de uma vez: "O rio nunca é o mesmo", então como que posso querer ser a mesma? O fato é que os ritos existem, entre outras coisas, para delimitarmos períodos das nossas vidas. Um período em que nos comportávamos de tal modo. Uma época em que víamos o mundo por uma certa perspectiva. E marcam as mudanças pelas quais passamos - ou deveríamos passar pelo menos, já que há aqueles que resistem (ou pensam resistir) covardemente a qualquer sinal de mudança.

Seja como for, passei por mais um rito de passagem. Redundante, eu sei. E onde estou agora? Bom, os pés estão no chão - cheiro de terra - mas isso não me impede de (querer) voar (mais) alto. Sou a menina com uma rosa. E a menina com uma carta açucarada. Mas parece mesmo que sou a menina com balão de gás hélio, já que tenho visto as coisas por um outro ponto de vista. O ar é mais rarefeito aqui em cima, mas a vista é mais bela.

E se a vida pede passagem, eu também posso - e peço.

Comentários

Sirius disse…
Batismos de fogo, ritos de passagem, ocasiões de suma importância para a construção do que somos - nem sempre gostamos de tudo por que passamos, mas no final das contas foi necessário.
O rio segue sempre em frente, passando por cima ou contornando seus obstáculos, e realmente nunca é o mesmo, mas SEMPRE flui. Nós também somos assim. A impermanência quer dizer transformação, não destruição ou sumidouro daquilo que é bom; no final das contas, é aquele olhar pra trás e ver as mudanças que culminaram no que somos hoje.
Belas palavras... como sempre, fazem refletir.
Beijos,
Sirius Bread S2

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