Amor Platônico

Numa lanchonete não muito longe daqui...
- JURA? Não acredito! Você? Amor platônico!
- Menos Dorinha, menos. Pelo amor de Deus! Não preciso de ninguém mais me aborrecendo. Eu já me aborreço sozinha e é o bastante...
- Não seja azeda Clara! Você bem que merece.
- O quê? Por quê? Você sabe muito bem o quanto eu detesto me apaixonar...
- Sim, sei bem. E lembro de como você caçoava de mim quando eu vivi minha paixão platônica!
- Bom, eu caçoava mesmo. Mas você era tão "caçoável"!
- E você está tendo o que merece. "Caçoável"? Eu? Que absurdo...
- Mas não se preocupe, agora eu estou "caçoável." Há cinco noites seguidas sonho com ele...
- Puxa, está assim? Mais uma de suas obsessões, é?
- Ah sim! Você sabe das minhas fixações, né? Normalmente é a fotografia e o Jânio.
- Jânio? Ah o seu cachorro... E você é viciada em trabalho...
- Cachorro não! Meu Lulu da Pomerânia.
- Que seja. Ainda acho que você merece tudo isso!
- Ah Dorinha, não fala assim...
- Deve ter algum ditado popular que ilustre bem a sua situação, mas não consigo lembrar de nenhum agora.
- Engraçado, a gente fala em amor platônico, mas eu vi uma vez que o real amor platônico, digo, o conceito original de Platão não tem nada a ver com o que a gente tem hoje.
- As coisas acabam sendo distorcidas através dos tempos. É só pensar na bíblia.
- É, é verdade...
- Mas e o que você vai fazer? Você deve ter algum plano, sempre tem.
- Fui pega desprevenida. Bom, o que eu posso fazer é continuar por perto. Gosto tanto de conversar com ele!
- É o que pesa pra você, né? Conversa...
- Totalmente. E quando eu digo conversa, não é xaveco não...
- Xaveco? Ainda se usa isso?
- Usa sim. Pior que sempre me faz pensar no personagem da turma da Mônica.
- Jura? Que barato. Mas você falava da conversa...
- Ah. Uma conversa que seja interessante, instigante, envolvente, rica, que te traga coisas novas, sabe? E claro, que renda boas risadas. Não tem essas conversas que mexem com a gente e você passa semanas pensando nela?
- Entendi.
- Agora eu conto os minutos para falar com ele, fico pensando no sorriso dele, cabelo. Adoro o cabelo dele... Ainda que toda essa cafonice me levasse a algum lugar, tudo bem. Mas não. Não vai acontecer nada.
- Como você sabe, Clara?
- Essas coisas a gente sabe. Claro que você não entenderia...
- Ah nem vem com essa de "mulher experiente" pra cima de mim. E se você estiver errada? Sei que você é a “dona da verdade”, mas não seria bom estar errada? Ou nem assim?
- Ah era tão bom quando meu mundinho era feito das minhas fotos e do meu Jânio...

Comentários

Bianca M. disse…
Tem um que de autobiografia... por que sera? ;)

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