Quinzinho aprende sua lição

Pois ele tinha um objetivo traçado - porcamente. Um rascunho? Possivelmente daqueles que não sairia do papel. Quinzinho caminhava rumo ao seu objetivo, ignorando ao máximo os balões que lhe davam e que lhe faziam subir e sentir-se nas alturas. Iam enchendo-lhe os bolsos da camisa e das calças de expectativas. Suas meias e seus ouvidos. Já nem comia mais, pois se alimentava das expectativas que lhe distribuíam. E sonhava e fantasiava sobre tudo o que aconteceria quando atingisse seu objetivo.

Mas choveu e viu suas vontades serem dissolvidas pela água que caía torrencialmente. Deu-se conta de como andava aéreo e de como aquilo tudo era uma bobagem. Transbordava expectativas que se manifestavam em ramos e flores que brotavam de suas veias e artérias.

Antes que a folhagem que crescia ligeira o sufocasse ou que as flores dessem frutos agridoces, podou-se com a tesoura de costura que tinha herdado de sua Tia Ninota. As flores caíam e murchavam tristes e Quinzinho murchou com elas. E ao entrar no chuveiro, sentiu-se estranhamente vestido. Olhou-se com cuidado, pêlo e pele, e embora estivesse completamente nu, sentia o peso da couraça com a qual vinha se protegendo há tanto tempo.

Abandonou seu objetivo, pois percebeu como seu foco recaía sobre as pessoas e coisas erradas. Lavou-se e foram pelo ralo todas as expectativas restantes. Não queria ser o que já tinha sido: Salomé, João Batista e Herodes simultâneamente nem Édipo - criminoso, investigador e vítima.

Comentários

Cayo Candido disse…
Este comentário foi removido pelo autor.

Postagens mais visitadas